quinta-feira, 5 de agosto de 2021

 Livro

Margareth Darezzo


Pra onde um livro pode me levar?

Outro país, para a lua ou pro mar.

Um dia no futuro, um tempo que passou.

Pra onde um livro pode me levar?

Pro espaço sideral e até pro meu quintal.

Pra onde um livro pode me levar?


O que um livro pode me trazer?

Um história, uma canção,

vontade de escrever mais livros para ler.

O que um livro pode me trazer?

Brincar com o pensamento,

o tempo e o movimento.

O que um livro pode me trazer?



DAREZZO, Margareth. Canteiro: músicas para brincar. 2. ed. São Paulo: Ática, 2017.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

O porco


Todo porco tem

Corpo de corpo.


Porque porco.

Só tem corpo.


Porco mesmo,

Tem um pouco


Sem ter corpo

Não tem porco.


Porco a porco

E corpo a corpo.


Sergio Capparelli



Livro: A árvore que dava sorvete. Porto Alegre: Projeto, 1999.

Interpretação do poema "A árvore que dava sorvete" - 4º Ano - Hora de  Colorir - Atividades escolares

Os dentes do jacaré


Resultado de imagem para livro boi da cara preta

De manhã até a noite,
jacaré escova os dentes,
escova com muito zelo
os do meio e os da frente.

– E os dentes de trás, jacaré?

De manhã escova os da frente
e de tarde os dentes do meio,
quando vai escovar os de trás,
quase morre de receio.

– E os dentes de trás, jacaré?

Desejava visitar
seu compadre crocodilo
mas morria de preguiça:
Que bocejos! Que cochilos!

– Jacaré, e os dentes de trás?

Foi a pergunta que ouviu
num sonho que então sonhou,
caiu da cama assustado
e escovou, escovou, escovou.
Sérgio Caparelli

Livro: Boi da Cara Preta. LP&M, 1983.

Bicholiques


Resultado de imagem para livro Um caldeirão de poemas

A vaca amarela, aquela,
Pulou a cancela e a janela.
Porém se estrepou.
Um rato a enxotou
Com um pontapé na canela.

Tatiana Belinky

Livro: Um caldeirão de poemas. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2008.


Resultado de imagem para poesia fora da estante

O peixe toma banho
saltando a cada instante,
usando por chuveiro
a tromba do elefante.

Walmir Ayala

Livro: Poesia fora da estante. Porto Alegre: Projeto, CPL/PUCRS, 199

Namoro espinhudo




Resultado de imagem para livro girassois lalauO porco-espinho
Foi abraçar
A porca-espinha.

Para não ficar
Toda espetadinha
Ela fugiu
Depressinha
E deixou
O porco-espinho
Se abraçando
Sozinho.

Lalau

Livro: Girassóis. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1995.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Pé de gato

Ficou doente o meu gato:
miou, miou,
Deram xarope de leite
e ele só piorou
orou, orou.
"Ele está velho..."
Resultado de imagem para cavalgando o arco iris livrodisseram.
"A sua  hora chegou..."

E o meu gato
de fato
morreu
como morre um passarinho.

Coloquei ele na caixa
do meu sapato novinho.
Vou enterrar no jardim.

Miau...
Cadê o gato?
Está lá
na caixa de sapato.

E se eu chorar um pouquinho,
meu choro
vai chorar sobre o gatinho.
Com o tempo
e mais uma regadinha,
talvez no jardim
venha a nascer
um pé de gato
ou de jasmin.

E quando o vento chegar,
pra sacudir a folhagem,
o meu jasmin vai miar.

Pedro Bandeira

Livro: Cavalgando o arco-íris. São Paulo: Moderna, 1995

Zum-zum-zum

O zumbido
Da abelha
Faz coceguinhas
Na orelha.

Lalau

Livro: Bem-te-vi e outras poesias. São Paulo: Companhia das letrinhas, 1994.

Desenhando animais


Resultado de imagem para passarinho no galho

Com um pincel de pêlo de camelo
desenhei um pássaro.
Soprei três vezes o ar,
e o pássaro saiu voando.
Foi surpreendido pelo verão:
bicava o coração de todas as frutas.

Com um pincel de pena de pássaro
desenhei um camelo.
Golpeei três vezes a terra,
e o camelo saiu andando.
Foi surpreendido pelo inverno:
nevava sobre a porta de sua corcunda.

Roberta Iannamico

Livro: Poema com Sol e Sons

segunda-feira, 26 de março de 2018

Elefante no nariz


Se acha perigoso
Um elefante no nariz, 
Pense bem: 
Muito pior 
Quando ele perde o equilíbrio 
E solta um pum.

Sergio Capparelli

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Planeta sujs

No planeta sujs,
ninguém toma banho.
O tempo passa,
o sol esquenta,
o suor vira nhaca,
O chulé aumenta.
dentro das orelhas,
a cera vira crosta.
É um fedor,

mas todo mundo gosta.


Silvestrin, Ricardo
Fonte: Pequenas observações sobre a vida em outros planetas.

Namoro espinhudo


O porco-espinho
Foi abraçar
A porca-espinha.

Para não ficar
Toda espetadinha
Ela fugiu
Depressinha.
E deixou
O porco-espinho
Se abraçando

Sozinho.

LALAU. 
Fonte: Girassóis.

A invenção do sapato


Primeiro olhou o pé do mosquito
e achou esquisito.
Depois examinou o pé do cachorro
e disse: “Socorro!”
Já o pé do elefante
achou interessante.
Mas quando juntou
o pé do sapo
e o do pato
que o inventor

chegou ao sapato.

SILVESTRIN, Ricardo. 
Fonte: É tudo invenção.

A bailarina

Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
Não conhece nem dó nem ré
mas sabe ficar na ponta do pé.
Não conhece nem mi nem fá
mas inclina o corpo para cá e para lá.
Não conhece nem lá nem si,
mas fecha os olhos e sorri.
Roda, roda, roda com os bracinhos no ar
e não fica tonta nem sai do
Roda, roda, roda com os bracinhos no ar
e não fica tonta nem sai do lugar.
Põe
Põe no cabelo uma estrela e um véu
e diz que caiu do céu.
Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
Mas depois esquece todas as danças,
e também quer dormir como as outras crianças.



Cecília Meireles

A casa e o seu dono

Essa casa é de caco
quem mora nela é o ...

Essa casa tão bonita
quem mora nela é a ...

Essa casa é de cimento
quem mora nela é o ...

Essa casa é de telha
quem mora nela é a ...

Essa casa é de lata
quem mora nela é a ...

Essa casa é elegante
quem mora nela é o ...

E descobri de repente
que não falei em casa de gente.


Elias José

A porta

Sou feita de madeira
Madeira, matéria morta
Não há nada no mundo
Mais viva que uma porta

Eu abro devagarinho
Pra passar o menininho
Eu abro bem com cuidado
Pra passar o namorado

Eu abro bem prazenteira
Pra passar a cozinheira
Eu abro de supetão
Pra passar o capitão

Eu fecho a frente da casa
Fecho a frente do quartel
Eu fecho tudo no mundo
Só vivo aberta no céu!

Vinicius de Moraes

As borboletas

Brancas
Azuis
E pretas
Brincam na luz
As belas borboletas.

Borboletas brancas
São alegres e francas.

Borboletas azuis
Gostam muito de luz.

As amarelinhas
São tão bonitinhas!

E as pretas, então...
Oh, que escuridão!

Vinicius de Moraes

A centopeia


Quem foi que primeiro
teve a ideia
de contar um por um
os pés da centopeia?

Se uma pata você arranca
será que a bichinha manca?

E responda antes que eu esqueça
se existe o bicho de cem pés

será que existe algum de cem cabeças?

COLASANTI, Marina. 
Fonte: Cada bicho seu capricho.

Amarelinha

Maré mar
é maré
mare linha
sete casas a pincel.
Pulo paro
e lá vou
num pulinho
segurar mais um ponto
no céu.



Maria da Graça Rios

Tanta tinta

Ah! Menina tonta,
toda suja de tinta
mal o sol desponta!

(Sentou-se na ponte,
muito desatenta...
E agora se espanta:
Quem é que a ponte pinta
com tanta tinta?...)

A ponte aponta
e se desaponta.
A tontinha tenta
limpar a tinta,
ponto por ponto
e pinta por pinta...
Ah! A menina tonta!
Não viu a tinta da ponte!


Cecília Meireles

Guaraná com canudinho


Uma vaca entrou num bar
e pediu um guaraná.

O garçom, um gafanhoto,
tinha cara de biscoito.

Olhou de trás do balcão,
pensando na confusão.

Fala a vaca, decidida,
pronta pra comprar briga:

– E que esteja geladinho
pra eu beber de canudinho!

Na gravata borboleta,
gafanhoto fez careta.

Responde: vaca sem grana
se quiser vai comer grama.

– Ah, é?, muge a vaca matreira,
quem dá leite a vida inteira?

– Dou leite, queijo, coalhada,
reclamo, ninguém me paga.

Da gravata, a borboleta
sai voando, satisfeita.

Gafanhoto leva um susto,
acreditando, muito a custo.

E serve, bem rapidinho,

guaraná com canudinho.

CAPPARELLI, Sérgio. 
Fonte: Boi da cara preta.

Vaca amarela

Vaca amarela
fez cocô na panela,
cabrito mexeu, mexeu,
quem falar primeiro
comeu o cocô dela.

Vaca amarela,
sutiã de flanela,
cabrito coseu, coseu
quem se mexer primeiro
pôs o sutiã dela.

Vaca amarela
fez xixi na gamela,
cabrito mexeu, mexeu,
quem rir primeiro
bebeu o xixi dela.

Vaca amarela
cuspiu da janela,
cabrito mexeu, mexeu,
quem piscar primeiro
lambeu o cuspe dela.


CAPPARELLI, Sérgio. 

Fonte: Boi da cara preta.

domingo, 21 de junho de 2015

Esquisitices

Em Jataí
é proibido fazer xixi.

Em Catiporâ
é proibido casar com rã.

Em Jaboticabal
é proibido comida com sal.

Em Salvador
é proibido sentir dor.

Em São Expedito
é probido comer mosquito.

Em Guarabobô
é proibido fazer cocô.

Em Guaxupé
é proibido cheirar chulé.

Em Aquidauir
é proibido proibir.

Sergio Capparelli.

sábado, 29 de março de 2014

Acidente

Gato malhado
subiu no telhado,
caiu na fumaça,
ficou sufocado.

Coitado
do gato malhado!

Morreu defumado!

Maria Dinorah




Ilustração de: Larissa Drescher Murillo

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Ovo do coelho

Coelho não bota ovo,
quem bota ovo é galinha.
Mas eu conheço um coelho
que é mesmo uma maravilha.

Os ovos que ele bota,
você nem imagina.
São ovos de chocolate
ou ovos de baunilha.

Por isso, nosso coelho
foi expulso da família.
O pai dele disse: - Meu filho,
isso é coisa de galinha.

O coelho respondeu rapidamente:
- Meu pau eu não tenho culpa,
botar ovo é meu destino.
Se não posso botar ovos em casa,
prefiro botar sozinho.

E foi assim que o coelho
saiu de casa para a rua,
botando ovo na Páscoa,
no sonho de todo mundo.

Paulo Leminski

Meus brinquedos

De repente
Ao lembrar dos brinquedos queridos
Que ficaram esquecidos
Dentro do armário
Me bate uma saudade
Me bate uma vontade
De voltar no tempo
De voltar ao passado
Mas nada acontece
Nada parece acontecer
E eu choro
Choro como o bebê que fui
E a criança que quero voltar a ser
Não quero crescer!

Clarice Pacheco

Quadrilha da sujeira

João joga um palitinho de sorvete na
rua de Teresa que joga uma latinha de
refrigerante na rua de Raimundo que
joga um saquinho plástico na rua de
Joaquim que joga uma garrafinha
velha na rua de Lili.

Lili joga um pedacinho de isopor na
rua de João que joga uma embalagenzinha
de não sei o que na rua de Teresa que
joga um lencinho de papel na rua de
Raimundo que joga uma tampinha de
refrigerante na rua de Joaquim que joga
um papelzinho de bala na rua de J. Pinto
Fernandes que ainda nem tinha
entrado na história.


Ricardo Azeredo

Pontinho de vista

Eu sou pequeno, me dizem,
e eu fico muito zangado.
Tenho de olhar todo mundo
com o queixo levantado.

Mas, se formiga falasse
e me visse lá do chão,
ia dizer, com certeza:
- Minha nossa, que grandão!

Pedro Bandeira


              

Guarda-Chuvas

Tenho quatro guarda-chuvas
todos os quatro com defeito;
Um emperra quando abre,
]outro não fecha direito.

Um deles vira ao contrário
seu eu abro sem ter cuidado.
Outro, então, solta as varetas
e fica todo amassado.

O quarto é bem pequenino,
pra carregar por aí;
Porém, toda vez que chove,
eu descubro que esqueci...

Por isso, não falha nunca:
se começa a trovejar,
nenhum dos quatro me vale -
eu sei que vou me molhar.

Quem me dera um guarda-chuva
pequeno como uma luva
Que abrisse sem emperrar
ao ver a chuva chegar!

Tenho quatro guarda-chuvas
que não me servem de nada;
Quando chove de repente,
acabo toda encharcada.

E que fria cai a água
sobre a pele ressecada!
Ai...

Rosana Rios

domingo, 15 de agosto de 2010

Versinhos difíceis de mastigar

Tenho um robot cozinheiro,
que cozinha com amor.
Queria ir à fruteira
Mas entrou no ferrador.

E depois, muito confuso,
cozinhou uns chinelos
e um prato de parafusos
no lugar de três marmelos.

Um bolo feito de roscas
decorado com ameixas.
E uma tarte de pregos
com gosto a laranjas frescas.
Mais rodelas de manteiga.

"Que faço com este robot?",
pergunto-me todo dia,
que entrou no ferrador
em vez de entrar na frutaria."

Autor desconhecido

Canção para ninar dromedário



Drome, drome
Dromedário

As areias
Do deserto
Sentem sono,
Estou certo.

Drome, drome
Dormedário

Fecha os olhos
O beduíno,
Fecha os olhos,
Está dormindo.

Drome, drome
Dromedário

O frio da noite
Foi-se embora,
Fecha os olhos
Dorme agora.

Drome, drome
Dromedário

Dorme, dorme,
A palmeira,
Dorme, dorme,
A noite inteira.

Drome, drome
Dromedário

Foi-se embora
O cansaço
E você dorme
No meu braço.

Drome, drome
Dromedário

Drome, drome
Dromedário

Drome, drome
Dromedário.



Sérgio Capparelli

Ou isto ou aquilo

Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa estar
ao mesmo tempo nos dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo, ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

O que é mãe?


Mãe? O que é mãe?
Pessoa doce?
Tão doce
Que faz passar vergonha
Doce de batata-doce?

Mãe? O que é mãe?
Tão doce
Que se parte
Quando parte,
Melhor seria
Se não fosse.

Mãe? O que é mãe?
Luz muito clara,
Tão clara
Que nos aclara
E, afagando,
nos ampara?

Mãe? O que é mãe?
Tão doce? Tão severa
Se a gente erra!
E que empurra
Se tudo emperra.
Mãe severa?
Mãe doce?
Ou mãe fera?

Nesse teu dia
Te dou jasmim,
Te dou gladíolos,
Te dou beijim,
Assim assado,
Assim, assim.

Sérgio Capparelli

Dose certa

No Brasil ou lá na China,
na Alemanha ou na Espanha,
tem menino e tem menina
que só sabem fazer manha.

Português,
chinês,
alemão,
espanhol,
etc. e tal.

Não importa a língua falada,
em todo canto do planeta
tem criança birrenta:
não quer isso nem aquilo,
não gosta de nada,
enjoada!

Há quem diga
que o remédio
na dose bem certa,
pra acabar
com a manha
de criança mimada
- como dizia Cecília,
grande poeta -
é uma boa
palmada.

Mas também
há quem diga
que a receita
não é essa,
e só acredita...
numa boa
conversa!

E você, o que
é que acha?

Sônia Barros

Receita de engolir o mar


o mar ensina
o equilíbrio-desequilíbrio
dos barcos
a rota da calma e do vento
o mar ensina horizontes
vôo e mergulho
o mar ensina tempestade
e silêncio

Roseana Murray

Aula de leitura

A leitura é muito mais
do que decifrar palavras
Quem quiser parar pra ver
pode até se surpreender


vai ler nas folhas do chão
se é outono ou verão;


nas ondas soltas do mar
se é hora de navegar;


e no jeito da pessoa
se trabalha ou se é à-toa


na cara do lutador,
quando está sentindo dor;


vai ler na casa de alguém
o gosto que o dono tem;


e no pêlo do cachorro,
se é melhor gritar socorro;


e na cinza da fumaça,
o tamanho da desgraça;


e no tom que sopra o vento,
se corre o barco ou se vai lento;


e também no calor da fruta,
e no cheiro da comida,


e no ronco do motor,
e nos dentes do cavalo,


e na pele da pessoa,
e no brilho do sorriso,


vai ler nas nuvens no céu,
vai ler na palma da mão,


vai ler até nas estrelas,
e no som do coração.


Uma arte que dá medo
é a de ler um olhar,
pois os olhos tem segredos
difíceis de decifrar


Ricardo Azeredo

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Pomar

Menino - madruga
o pomar não foge!
(pitangas maduras
dão água na boca.)

Menino descalço
Não olha onde pisa.
Trepa pelas árvores
Agarrando pêssegos.
(Pêssegos macios
como paina e flor.
Dentadas de gosto!)

Menino, cuidado,
jabuticabeiras
novinhas em folha
não agüentam peso.

Rebrilha, cem olhos
agrupados, negros.
E as frutas estalam
- espuma de vidro -
nos lábios de rosa.
Menino guloso!

Menino guloso,
Ontem vi um figo
mesmo que um veludo,
redondo, polpudo,
E disse: este é meu!
Meu figo onde está?

- Passarinho comeu,
passarinho comeu...


Henriqueta Lisboa

Vende-se

Vende-se uma casa encantada
no topo da mais alta montanha.
Tem dois amplos salões
onde você poderá oferecer banquetes
para os duendes e anões
que moram na floresta ao lado.
Tem jardineiras nas janelas
onde convém plantar margaridas.
Tem quartos de todas as cores
que aumentam ou diminuem
de acordo com o seu tamanho
e na garagem há vagas.

Roseana Murray

Os poemas

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro de quem lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhoso espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

Mario Quintana